sábado, 21 de agosto de 2010

All Star





Já fazia mais de dois anos que eu havia saído daquela caixa de papelão e havia começado a viver. Por mais que, para nós, all star, a vida era algo completamente passageiro. Não sabíamos o dia da nossa vida, nem de nossa morte, só sabíamos que tínhamos que viver o aqui e o agora.
Todos os dias, minha dona, Alice, me calçava para ir a escola com ela. Saiamos de seu quarto e seguíamos para rua ( algo que me fascina todos os dias ),e depois, íamos até o ponto de onibus, e foi ai que veio o minha primeira decepção.
Algumas pessoas acham que nós não temos vida, mas se confundem. Nós temos, e temos uma visão ampla também. Na primeira vez que eu sai da caixa, eu senti a claridade, a vida e percebi, de uma forma desconfortável, a desigualdade ( minha primeira decepção ). Minha dona era skatista, então, muitas vezes eu simplesmente aproveitava o passeio, e observava. Com a observação eu percebi que nem todos haviam a mesma sorte que ela. Em todos os lugares haviam desigualdades, desde o mais simples objeto, até o mais complexo. Você via isso claramente em tudo, roupas, acessórios, comida, carros... Os mais ricos eram os mais fúteis, possuíam centenas das mesmas coisas, enquanto os mais simples lutavam para conseguir os bens desejados e os guardavam com a própria vida... Mas Alice era diferente, não era? Ela ligava para os outros, muitas vezes havia ido fazer trabalho voluntário e eu era a prova viva disso, pois havia presenciado muitas vezes, ela ajudando os moradores de rua no inverno, ir aos hospitais contar histórias para crianças na primavera, ir doar presentes para crianças carentes no verão, e no outono, ir arrecadar alimentos para montar cestas básicas...

Hoje era um dia qualquer e nós voltávamos da escola, andando de skate . Alice estava distraida, se empolgando com o som de AC/DC. Sentiu seu celular vibrar e o tirou no bolso, atendendo a chamada. Ela conversava com a sua mãe e nem percebeu quando ele se aproximou. Usava roupas remendadas e aquele rosto... Eu o conhecia.
Ele a abordou de uma forma pratica, a derrubando do skate, "sacando" uma faca e a ameaçando, segurando-a sobre sua costela. Foram questão de segundos e ele já havia saído com o celular dela e ela estava com uma cara de desesperada no chão, e foi então que eu me toquei, ele era um cara que ela havia ajudado no inverno...

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